Guardadores do Tempo: quando coleções sobrevivem (ou desaparecem) com seus donos
- exlibrisbrasil2020
- 9 de mai.
- 2 min de leitura
Por Mary Komatsu*
O colecionismo, seja no campo museológico ou no universo delicado dos ex-líbris, revela não apenas um interesse estético ou intelectual, mas também uma profunda relação afetiva entre o indivíduo e os objetos que escolhe preservar. Tanto nos museus quanto nas coleções particulares de ex-líbris, há um impulso de guardar fragmentos do passado, vestígios de memória, identidade e história.
No caso dos acervos museológicos, a coleção é frequentemente orientada por critérios institucionais: a preservação do patrimônio cultural, artístico, histórico ou científico, que visa o bem coletivo e a educação pública. Já o colecionismo de ex-líbris nasce, muitas vezes, de uma paixão íntima, a busca por marcas de propriedade gravadas em livros, pequenos tesouros que carregam nomes, brasões, símbolos e histórias pessoais, testemunhando a trajetória de bibliotecas privadas e o gosto individual.
Contudo, ambos os tipos de colecionismo enfrentam um destino comum e, por vezes, melancólico: a dispersão após o falecimento de seus proprietários. Quando o colecionador parte, suas escolhas e curadorias pessoais frequentemente se desfazem. No caso das coleções museológicas, sem um destino previamente acordado como a doação para instituições, peças podem ser vendidas, repartidas entre herdeiros ou simplesmente perdidas. No universo dos ex-líbris, a dispersão é ainda mais marcante: coleções montadas ao longo de décadas, com paciência e dedicação, acabam fracionadas em leilões, vendidas por herdeiros que muitas vezes desconhecem seu valor histórico, ou caem no esquecimento.
Assim, tanto o museu quanto o colecionador de ex-líbris se tornam guardiões temporários da memória. E a questão da preservação pós-morte revela a importância de políticas públicas, testamentos e doações conscientes para que acervos construídos com tanto zelo possam continuar existindo e contando suas histórias às futuras gerações.
Para aprofundar o tema, indico dois vídeos que tratam da delicada questão da dispersão das coleções, quando memórias e objetos tomam novos rumos:
*Mary Komatsu - Bibliotecária e administradora do canal Caçadora de Ex-líbris.
Excelente reflexão ...já estou trabalhando esta transição junto aos meus