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Vanitas nos Ex-Líbris: a efemeridade da vida e o poder da Reflexão

Por Mary Komatsu*


Vanitas nos ex-líbris refere-se a um tipo específico de ex-líbris que incorpora elementos da arte vanitas. A arte vanitas é um gênero de natureza-morta que surgiu no período barroco, no século XVII, especialmente nos Países Baixos, e se caracteriza por elementos simbólicos que representam a transitoriedade da vida, a futilidade dos prazeres terrenos e a inevitabilidade da morte.


Esses ex-líbris são mais do que simples marcas de propriedade; eles carregam consigo uma profunda mensagem filosófica e moral. Em geral, incluem ícones como caveiras, que são símbolos universais da mortalidade, ampulhetas e relógios que indicam a passagem inexorável do tempo, velas se apagando que sugerem a efemeridade da vida, flores murchas que aludem à decadência e à perda da beleza, e livros abertos, que podem representar tanto o conhecimento quanto o registro da vida que, inevitavelmente, chega ao fim.


O uso de tais símbolos nos ex-líbris servia como um lembrete constante ao leitor e ao proprietário do livro da fragilidade e impermanência da vida. Este tipo de ex-líbris se destinava não apenas a proteger e identificar a posse de um livro, mas também uma reflexão contínua sobre a existência humana, a moralidade, e o destino inevitável de todos. O proprietário de um ex-líbris vanitas, portanto, era alguém que valorizava não apenas a literatura, mas também a introspecção e a contemplação filosófica sobre o significado e o propósito da vida.



Um bom exemplo está no ex-líbris de Kurt Prober um dos grandes nomes da numismática brasileira. Observamos que, nesses ex-líbris, há a ilustração de uma ampulheta acompanhada por uma vela acesa, mas com uma diferença notável no tamanho das velas. No ex-líbris que Kurt Prober utilizou desde 1945, a vela é maior, enquanto no ex-líbris de 1985 a vela aparece menor, sugerindo a ideia da vida sendo consumida pelo tempo. Em ambos, encontramos a divisa em latim "IN VTRVMQVE PARATVS", que significa “preparado tanto para a vida quanto para a morte”, refletindo a filosofia de vida de Kurt Prober e sua jornada ao longo dos anos.


Ex-líbris de Kurt Prober, 1945.
Ex-líbris de Kurt Prober, 1985.

A escolha de um ex-líbris vanitas podia refletir o caráter do proprietário, indicando uma preocupação com questões existenciais e uma perspectiva de vida que reconhece a fugacidade dos prazeres terrenos em contraste com a eternidade. Ao integrar essas imagens em seus ex-líbris, indivíduos buscavam cultivar uma atitude de memento mori, ou seja, uma lembrança constante da mortalidade.


*Mary Komatsu - Bibliotecária e administradora do canal Caçadora de Ex-líbris.

 

 

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