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Marcas de história: duas tatuagens e um mesmo amor pela Biblioteca Nacional

Por Mary Komatsu*


Sabemos que a tatuagem é uma forma de eternizar algo que faz sentido para nós, um sentimento, uma história, uma estética ou um momento que desejamos levar para sempre. Elas também podem marcar acontecimentos especiais ou homenagear pessoas e instituições que têm significado profundo em nossas vidas.


Recentemente, soube de duas pessoas que conheço escolheram tatuar em sua pele uma homenagem à Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Cada uma carrega um significado diferente em relação à instituição, mas ambas têm histórias inspiradoras.


A primeira é Thais Helena de Almeida, conservadora e restauradora, que trabalhou por muitos anos na Biblioteca Nacional. Profissional dedicada, Thais se aprofundou na pesquisa sobre a trajetória dos servidores que, ao longo do tempo, contribuíram para a preservação desse patrimônio. Entre esses personagens, destacou-se para ela o diretor Frei Camillo de Monserrate (1853-1870), um beneditino que dedicou parte de sua vida à salvaguarda do acervo da instituição.


Carimbo para a Biblioteca Nacional criado pelo Frei Dom Camilo.
Carimbo para a Biblioteca Nacional criado pelo Frei Dom Camilo de Monserrate.

Foi Frei Camillo quem idealizou uma melhor organização dos livros, defendeu a construção de um edifício próprio para a Biblioteca e reimplantou um sistema de segurança por meio de um carimbo oficial. O desenho desse carimbo unia o nome “Biblioteca Nacional e Pública da Corte” ao símbolo de sua ordem cristã.


Durante as investigações no Setor de Manuscritos, Thais encontrou um documento em que Frei Camillo descrevia detalhadamente a composição de um novo carimbo que pretendia mandar confeccionar. Desde que a Biblioteca se tornara imperial, em 1822, a prática de carimbar livros havia sido abandonada e só foi retomada em 1853, com a entrada de Frei Camillo.


A leitura desse documento revelou não apenas o cuidado e a atenção do diretor aos mínimos detalhes, mas também o profundo afeto que nutria pela instituição. Foi esse sentimento que levou Thais Helena a eternizar, na própria pele, o desenho do carimbo criado por Frei Camillo, transformando um símbolo histórico em uma marca pessoal e permanente, uma homenagem a esse grande benfeitor da Biblioteca Nacional.


Tatuagem de Thais Helena de Almeida            (perna direita)
Tatuagem de Thais Helena de Almeida (perna direita)

A segunda história é de Suzane Garcia Dias de Souza, que estagiou na Divisão de Obras Raras da Biblioteca Nacional entre julho de 2019 e junho de 2021. Foi lá que conheceu uma obra de Eliseu Visconti, artista que também criou o ex-libris da BN. Encantada com a arte, Suzane decidiu que um dia a transformaria em tatuagem, promessa que cumpriu em outubro de 2022, pelas mãos do tatuador  Igor Vicente.  


Emblema da Biblioteca Nacional por Eliseu Visconti.
Emblema da Biblioteca Nacional por Eliseu Visconti.

O emblema e o ex-libris criados por Visconti em 1903 são marcos da identidade visual da Biblioteca Nacional. O ex-libris permanece em uso até hoje, enquanto o emblema original, mesmo modificado ao longo do tempo, ainda pode ser visto nos vidros das janelas da sede no Rio de Janeiro. Composto por livros, um globo terrestre com o mapa do Brasil, a estrela da República, as iniciais “BN” e a flor de passiflora,  símbolo da flora tropical, esse emblema representou oficialmente a instituição em documentos e publicações.


Ao tatuar essa arte, Suzane não apenas levou para a pele um traço estético, mas também uma parte da história e da identidade da Biblioteca Nacional, a maior biblioteca da América Latina.


Tatuagem de Suzane Garcia (braço direito)
Tatuagem de Suzane Garcia (braço direito)

Assim, tanto Thais quanto Suzane transformaram seu vínculo com a Biblioteca Nacional em algo que ultrapassa o papel e os arquivos. Elas a carregam consigo PARA SEMPRE.



*Mary Komatsu - Bibliotecária e administradora do canal Caçadora de Ex-líbris.

 

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