O Ex-líbris na era da Inteligência Artificial
- exlibrisbrasil2020
- 9 de set.
- 2 min de leitura
Por Mary Komatsu*
Nos dias de hoje, os ex-líbris continuam a ser pequenos portadores de histórias, identidades e estética, mantendo seu papel histórico como marcas de propriedade, mas também como objetos de arte. Tradicionalmente, eles foram concebidos por artistas e ilustradores que imprimiam suas habilidades, criatividade e sensibilidade em cada detalhe, transformando o simples ato de marcar um livro em uma obra de arte única. Cada traço carregava a presença humana do criador — sua intenção, técnica e estilo pessoal — tornando cada ex-líbris exclusivo e carregado de significado.

Com o surgimento da inteligência artificial na produção de imagens e ilustrações trouxe uma nova perspectiva sobre o ex-líbris. Hoje, é possível gerar ex-líbris digitalmente com apenas alguns comandos, criando imagens impressionantes e complexas em segundos. Isso reduz significativamente o custo de produção, tornando o ex-líbris mais acessível e rápido de obter. Mas essa facilidade levanta questões fundamentais: qual é o valor de um ex-líbris criado por IA? Ele possui a mesma aura de exclusividade que um ex-líbris tradicional? Pode transmitir a mesma intimidade entre criador, proprietário e obra?
A escolha entre um ex-líbris tradicional e um criado por IA envolve mais do que o custo financeiro. Um ex-líbris feito por um artista carrega sua história, seu toque pessoal e, muitas vezes, sua própria narrativa de vida. Já um ex-líbris produzido por IA é produto de algoritmos, referências coletadas e processamento de dados: é belo, mas a “alma” humana por trás dele está ausente. Quem valoriza a conexão afetiva, o gesto artístico e a singularidade do objeto pode preferir investir em um ex-líbris feito à mão, mesmo que mais caro, enquanto a IA oferece praticidade e economia, mas com outro tipo de significado.

Assim, fica uma reflexão, os ex-líbris criados por IA nos convidam a repensar a arte, a autoria e o valor que atribuímos aos objetos que possuímos. Eles podem ser vistos como uma extensão das possibilidades criativas, mas talvez não substituam o ex-líbris humano como objeto de vínculo pessoal, memória e coleção afetiva.
O desafio atual está em equilibrar tradição e inovação, preservando o que torna o ex-líbris especial: a conexão entre o livro, seu dono e o gesto humano que o ornamenta.
*Mary Komatsu - Bibliotecária e administradora do canal Caçadora de Ex-líbris.
Muito interessante e reflexivo
Excelente artigo. Muito pertinente a conclusão que fala da necessidade do equilíbrio entre o novo e o antigo.