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Um ex-líbris para o primeiro Marechal negro do Brasil

Por Mary Komatsu*


O Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro, marca a morte de Zumbi dos Palmares, símbolo maior da resistência negra à escravidão no Brasil. Nesta data, rendemos homenagem à memória e ao legado daqueles que, com coragem e determinação, romperam as barreiras do preconceito e abriram caminhos para as gerações futuras.


Marechal João Baptista de Mattos
Marechal João Baptista de Mattos

Entre essas figuras notáveis está o Marechal João Baptista de Mattos (1900–1969)  o primeiro negro a alcançar o posto de Marechal do Exército Brasileiro. Nascido apenas doze anos após o fim da escravidão, João Baptista foi filho de Umbelina de Mattos, uma mulher livre que trabalhava como babá de uma família abastada, e de Quintilhiano de Mattos, condutor dos trens da Central do Brasil.


Graças à educação e ao incentivo recebidos ainda na juventude, Mattos trilhou um caminho exemplar: formou-se em Direito, publicou obras de pesquisa, integrou instituições de ensino e alcançou altos cargos no Ministério da Guerra, um feito extraordinário para um homem negro em um Brasil ainda profundamente marcado pelas desigualdades raciais.


Quando faleceu, em 1969, seu velório reuniu pessoas de todas as classes sociais, um reflexo simbólico de sua trajetória que desafiou estigmas e expectativas. Porém, o reconhecimento de suas conquistas foi frequentemente narrado à luz do chamado “mito da democracia racial”  uma ideia que mascarava o racismo estrutural brasileiro, exaltando casos isolados como se fossem sinais de igualdade.


Mesmo diante das limitações impostas por essa visão, o nome de João Baptista de Mattos permanece como um marco de resistência, mérito e representatividade negra nas Forças Armadas e na história nacional.


Um aspecto raro e significativo de sua memória está registrado na arte: em 1950, o artista Homero Costa criou um ex-líbris em homenagem ao Marechal João Baptista de Mattos. A obra destaca-se não apenas por sua qualidade gráfica, mas pelo seu simbolismo é extremamente incomum encontrar ex-líbris que retratem figuras negras, especialmente no contexto militar.


Ex-líbris de João Baptista de Mattos. Desenho de Homero Costa, 1950.
Ex-líbris de João Baptista de Mattos. Desenho de Homero Costa, 1950.

Assim, neste 20 de novembro, o ex-líbris de João Baptista de Mattos transcende sua função original de marca de propriedade e torna-se um símbolo visual da conquista e da presença negra na história brasileira um lembrete poderoso de que memória, arte e identidade caminham lado a lado na construção de uma sociedade mais justa e consciente.


Mais imagens do Marechal João Baptista de Mattos: https://marechalmattos.com.br/galeria/


*Mary Komatsu - Bibliotecária e administradora do canal Caçadora de Ex-líbris.

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