Maison Agry: tradição, elegância e ex-líbris desde 1825
- exlibrisbrasil2020
- 15 de jul.
- 2 min de leitura
Por Mary Komatsu*
Entre a Place Vendôme e os Jardins das Tulherias, em pleno coração de Paris, está uma das mais encantadoras casas de gravação do mundo: a Maison Agry. Fundada em 1825, a Agry é um verdadeiro templo da arte heráldica e da gravação manual, especializada na criação de brasões, monogramas e, claro, ex-líbris personalizados que marcaram gerações.

A sede da maison, localizada na histórica rue de Castiglione, mantém até hoje sua boutique original no estilo Carlos X, com móveis de marchetaria do século XIX. Um espaço carregado de memória, tradição e beleza, onde a herança artesanal é passada de geração em geração há quase dois séculos.
Ex-líbris para reis, nobres, diplomatas... e brasileiros!
A história da Maison Agry se cruza com a do ex-librismo brasileiro desde o século XIX. Nas décadas de 1870 e 1880, diversas figuras do Império encomendaram à casa parisiense suas marcas bibliográficas.
Entre os primeiros clientes brasileiros estão:
José Maria da Silva Paranhos, Visconde do Rio Branco (1819–1880) – um dos primeiros brasileiros a encomendar um ex-líbris na Maison.
Diogo Velho Cavalcanti de Albuquerque, Visconde de Cavalcanti (1829–1899).
Amélia Machado de Cavalcanti de Albuquerque (1852–1946), Viscondessa de Cavalcanti – uma das mulheres mais sofisticadas do Segundo Império; seu ex-líbris, gravado pela Agry, é considerado um dos mais refinados já feitos para um brasileiro.
José Maria da Silva Paranhos Júnior, Barão do Rio Branco (1845–1912) – diplomata e historiador, teve seu ex-líbris desenhado por ele mesmo e gravado em água-forte e buril pela Maison. Versões posteriores traziam seu título nobiliárquico.
Segundo Manuel Esteves, que visitou a Maison Agry em 1955, uma variante colorida do ex-líbris do Barão do Rio Branco encontrada lá “faria inveja aos mais destacados colecionadores do Brasil e do mundo”.

A arte da gravação viva até hoje
Mais do que memória, a Maison Agry é criação viva. Seus gravadores mantêm técnicas ancestrais como o talhe-doce, a água-forte e o buril, aplicadas sobre metais nobres como cobre, aço ou bronze. Cada ex-líbris nasce de uma escuta atenta ao cliente: seus símbolos, seu estilo, sua história.
A gravação em papelaria também é uma especialidade da casa: cartões, selos, convites e, claro, ex-líbris, impressos com o requinte e a precisão que fizeram da Maison uma referência mundial.
Um legado em constante movimento
Com quase 200 anos de história, a Maison Agry continua ativa e relevante, criando peças únicas para famílias, instituições e colecionadores ao redor do mundo. É um raro exemplo de tradição heráldica em plena atividade e um nome de destaque na história dos ex-líbris artísticos.
É emocionante descobrir que tantos brasileiros do século XIX confiaram suas marcas pessoais a essa casa parisiense. Um elo que une culturas, gerações e bibliotecas e que ainda pulsa, com beleza e identidade, nos dias de hoje.
👉 Saiba mais: agry.fr
Referência:
ESTEVES, Manuel. O Ex-libris. 2 ed. Rio de Janeiro,Laemmert, 1956.
SILVA, Alberto Costa e.; MACIEL, Anselmo, org. O livro dos ex-líbris. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras; São Paulo: IMESP, 2014.
*Mary Komatsu - Bibliotecária e administradora do canal Caçadora de Ex-líbris.
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